O vulcão Etna
Antes mesmo de aterrizar em Catânia, olhando pela janelinha do avião, o vulcão Etna já dá as caras: imponente, fumacento, grandioso. É como se estivesse te alertando sobre quem realmente manda naquele pedaço da ilha.
Em terra firme não é diferente: de onde quer que você esteja, basta olhar para o alto que conseguirá avistar aquela imensa chaminé.
Para os habitantes de Catânia e arredores o vulcão é tratado no feminino, chamado de “montanha” e reverenciado como uma deusa. Depois de 8 dias abrindo a janela do meu quarto que dava para a tal montanha lá ao longe, eu entendi porque tanto respeito. É como se o vulcão mandasse uma mensagem, tão ameaçadora quanto verdadeira: “aproveita hoje…tudo pode mudar a qualquer momento”.
E pode mesmo! O Etna ainda está ativo e entra em erupção com mais frequência do que você pode imaginar! De acordo com o Instituto Nacional de Geologia e Vulcanologia, a frequência e a intensidade dos fenômenos vem aumentando progressivamente nos últimos 100 anos. A estimativa é que aconteça entre 7 e 35 erupções anuais nos próximos 10 anos.
Mas eu gosto de brincar com fogo (rsrsrs…) e meu sonho era subir no Etna. Pra falar a verdade, chegar o mais perto possível de uma cratera vulcânica – de preferência transbordando de lava – era a única coisa que estava definida como “IMPERDÍVEL” na minha lista de coisas para fazer na costa leste da Sicília.
Trekking até a cratera do vulcão
O que a maioria dos turistas faz é ir de carro até o Rifugio La Sapienza e visitar as crateras Silvestri, que estão inativas e são pequenas e sem graça. Eu queria mais e por isso estava procurando um guia especializado quando Pippo apareceu na minha vida.
Pippo não é guia, é o pai de uma amigo catanês: um senhor de 72 anos que afirma que sua amante é a montanha. Desde muito pequeno faz excursões de exploração para o Etna, conhece cada pedacinho de estrada, cada uma das crateras (ativas ou não) pelo nome, cada uma das tilhas de trekking e cada uma das cabanas de refúgio disponíveis montanha acima. Tudo mapeado na sua cabeça, resultado de mais de 50 anos de estudo.
Quando não está no Etna, Pippo fica na varanda de sua casa com um binóculo, admirando de longe seu grande amor. Me pareceu o guia perfeito! E aceitei seu convite para subir a montanha no dia seguinte.
Cheguei em sua casa às 9h30 com uma sacola cheia de sanduíches, mas ele me disse que não era preciso: “para subir o Etna precisaremos somente das pernas e de água”.
Fomos de carro (uma hora aproximadamente a partir de Catânia) até a entrada da trilha chamada “Schiena dell’Asino”, que é a trilha mais fácil de percorrer para admirar o espetacular Valle del Bove.
Deixamos os sanduíches tostando no carro e preparamos uma mochila leve com o essencial: água e máquina fotográfica. A primeira parte do trajeto é íngreme, mas se você tiver o mínimo de condicionamento físico vai tirar de letra. E se não tiver, basta ir devagar, admirando a paisagem, que vai alcançar logo a parte plana da trilha.
No dia que fomos o vento estava anormal, mal conseguíamos parar em pé e tivemos que nos aproximar da borda sentados no chão. Eu engatinhei quase o tempo todo, ainda mais depois da história que o Pippo contou sobre um homem que tinha sido levado pelo vento para as profundezas da cratera. Eu hein… não gosto de brincar taaanto com fogo assim!
Minha experiência
Não havia lava na cratera do vulcão naquele dia, mas isso não diminuiu a emoção que senti estando frente a frente com aquele colosso misterioso e irritadiço… As nuvens que estavam abaixo de nós se dissiparam e ao longe avistei o mar… calmo e infinito. Fui tentar expressar a minha emoção para Pippo. Mas o sábio levou os dedos ao lábio e me disse: ” Shhh… Ana, escuta esse silêncio…”.
Desci em silêncio, meditando sobre as coisas da vida, sobre nossa grandiosa pequenez e sobre como uma viagem pode nos modificar e ensinar. Me apaixonei pelas montanhas e, com certeza, muitas outras estarão assinaladas no meu roteiro de viagem como “imperdíveis”.
A trilha “Sentiero Schiena dell’Asino”
Como chegar: a entrada para a trilha se encontra na estrada SP92, quando esta se encontra com a Via Catania (veja no mapa o lugar exato). Não há placa de identificação – o que dificulta um pouco – mas preste atenção que você vai encontrar à sua direita do acostamento, na entrada da trilha, vários carros estacionados. Não há bar, banheiro, nenhuma escritório de informação para turistas, nada…. vá preparado!
Percurso: 5 Km ida e volta com um desnível de 250 metros.
Grau de dificuldade: médio-fácil: não é necessário equipamento especial e nem guia (lembre-se: só pernas e água segundo Pippo). A parte mais difícil do percurso é o início, uma estrada de pedras com subidas íngremes. Superado esse pedaço, a trilha se torna fácil e agradável, com chão de terra batida e sem subidas cansativas.
Tempo de percorrência: aproximadamente 4 horas
Quando ir: pode-se percorrer a trilha em qualquer estação do ano, mas evite-a em caso de neve.
O que você vai ver: à sua direita está a cidade de Catânia, em frente o mar Jônio e à esquerda a Montagnola (a montanha símbolo do lado sul do Etna). A trilha termina na borda do Valle del Bove.
Que massa! A primeira foto, “sobre as nuvens” está fenomenal! O Etna é realmente uma experiência marcante…
Sim…um dos passeios que mais gostei na Sicília!
Baci,
Ana
É seguro ir só em duas pessoas que não conhecem a trilha? Você conhece alguma forma fácil de chegar, sem ter que alugar um carro ou moto?
Olá, gostei muito do post. Parabéns!
Obrigada!
Baci,
Ana
Ana boa tarde – adorei seu blog e está me ajudando muito a organizar minha viagem a Sicília – gostaria de fazer a trilha Schiena – será que o seu Pippo nos acompanharia ? É possível termos o contato dele ? Grata Miriam
Oi Miriam…infelizmente não… rs
Seria demais não é?
Baci,
Ana
Olá, estou indo com mais 3 amigas próxima semana para Catânia e, pesquisando, tb achei super sem graça o passeio pela Sapienza.
É possível fazermos a trilha sozinhas sem guia? É seguro?
Pra chegar lá, precisa ser de táxi?
Sim, é possível ir de táxi e sem guia!
Baci,
Ana
“”” Desci em silêncio, meditando sobre as coisas da vida, sobre nossa grandiosa pequenez e sobre como uma viagem pode nos modificar e ensinar. Me apaixonei pelas montanhas e, com certeza, muitas outras estarão assinaladas no meu roteiro de viagem como “imperdíveis” “””
Ansioso pelas histórias das próximas… 🙂
Antonio… vicie nas montanhas como você!!
Te conto tudo!
Ana