A primeira vez que estive em Assis, eu estudava em Perugia.
Fui conhecer a cidade do meu santo de devoção sem pretensão nenhuma e sem estudar nada previamente sobre o local, achando que o que eu tinha pra ver, conseguiria ver em uma tarde.
Doce ilusão! Passei 6 horas na cidade e voltei frustrada por não ter conseguido desfrutar tudo o que aquela cidadezinha minúscula poderia me proporcionar em termos de história, arte e religião.
Naquela tarde, decidi 3 coisas da minha vida:
1 – dentro da Basílica de Santa Clara decidi que minha primeira filha se chamaria Clara;
2 – prometi voltar a Assis toda vez que eu estivesse na Itália (bom, confesso que nem sempre consigo já que nunca imaginei que viajaria de 4 a 5 vezes ao ano para a Itália). Confesso que, às vezes, preciso negociar minhas visitas com Francisco – mas ele é bacana, me entende…
3 – continue lendo e vai saber já-já …
Tente dedicar ao menos um dia a Assis – e mesmo assim, voltará para casa como eu: sempre querendo mais!
Assim, minha DICA NÙMERO 1 é: não passe correndo por Assis!
A pequena cidade tem uma longa história. Em ordem cronológica e bem resumida:
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- surgiu como uma comunidade nas proximidades do território etrusco;
- foi cidade romana;
- após a queda do Império Romano foi destruída pelo godos de Totila;
- ocupada pelos Bizantinos;
- conquistada pelos longobardos;
- por muito tempo fez parte do Ducado de Spoleto;
- experimentou um pequeno período de liberdade, mas logo foi submetida ao poder de Barbarossa;
- após várias guerras – das quais Francisco participou como soldado – sucumbiu ao poder perugino (existe até hoje uma “guerra fria” entre a população de Perugia e de Assis);
- de 1500 até a Unificação da Itália (1861) fez parte do Estado da Igreja.
COMO CHEGAR
Se estiver viajando de trem, chegue até Assis – a partir de Roma ou Florença – em 2 horas com o Regionale Veloce e o Intercity, respectivamente. A estação de trem fica a 4 Km do centro histórico; pegue um táxi ou o ônibus (Linea C) e desça na Piazza Mateotti para continuar a visita.
Se estiver de carro, o GPS fará tudo por você, mas quando chegar na cidade, lembre-se de estacionar na Piazza Mateotti.
Existem outros estacionamentos e paradas de ônibus no centro histórico, mas na minha opinião, parando na Piazza Mateotti você vai se dar melhor.
Pense bem: Assis fica numa colina então, é melhor desce-la do que subi-la e esta praça fica no topo da cidade. Assim, a DICA NÚMERO 2: Comece a visita da Piazza Mateotti e visite a cidade descendo pelas ruas íngremes e estreitas – e não subindo.
O QUE VISITAR
Siga as indicações de percurso que fiz para você e passe por todas as atrações, sem perder nada e sem andar em círculos!
Se você seguiu meu conselho (seguiu, né?), a poucos metros de descida vai avistar a Catedral de São Rufino.
Construída em 1140 e reformada em 1571, ali encontra-se a pia batismal onde – dizem – foram batizados São Francisco e Santa Clara.
Conta-se que foi em um dos leões de pedra na porta da igreja que o jovem Francisco subiu para pregar aos incrédulos sua conversão. E lá mesmo devolveu tudo ao rico pai comerciante, entregando até suas vestes a ele, numa clara demonstração de renúncia aos bens terrenos.
Descendo mais um pouco você sairá no meio da Piazza del Comune, onde estão o Templo de Minerva de épocas romanas – sobre suas ruínas foi construída a Igreja de Santa Maria sobre Minerva.
Sempre que vou pagar minha promessa pra Francisco, dou uma passadinha na Piazza del Comune para fazer 2 coisas (DICAS 3 E 4);
1 – tomar um sorvete ou degustar os ótimos produtos típicos umbros no Bar Trovellesi. Posso passar horas ali observando o sobe e desce dos turistas …
2 – Visitar a mais antiga papelaria e livraria da cidade, a Zubboli, que desde 1870 é administrada pela mesma família. Ali você pode encontrar os melhores guias de viagem, inclusive todos aqueles do Touring Club Italiano.
Além disso, agendas, álbuns, diários, cadernos, tudo feito em laboratório próprio da marca e em papel 100% algodão! Não deixe de comprar ali por apenas 1 Euro o Cântico das Criaturas de São Francisco impresso em pergaminho. Lindo!
Pegando o Corso Giuseppe Mazzini da Piazza del Comune, você chega na Basilica di Santa Chiara. A igreja, em estilo gótico italiano (1257-1265), guarda duas preciosidades: o corpo de Santa Clara e o famoso Crucifixo de San Damiano, que conversou com Francisco e foi o responsável pela sua conversão.
Da praça da igreja de Santa Clara, pegue a Via Agnese até a Piazza del Vescovado, ali está a Chiesa Nuova, antiga casa do pai de Francisco, Pietro di Bernardone, e onde ele morou até sua conversão, aos 24 anos. Em uma tentativa de fazer com que o futuro Santo mudasse de ideia, o aprisionou em uma cela, que vemos à esquerda, no interior da igreja.
De volta a Piazza del Comune, pegue a Via Portica/Via San Francesco e chegue na Basilica di San Francesco.
Neste ponto, você desceu aproximadamente 2 Km e nem se cansou! Viu só? Pra descer todo santo ajuda! Imagina se não tivesse seguido a dica número 2?!
A Basilica di San Francesco, na verdade, é um edifício: duas basílicas sobrepostas, com uma cripta embaixo. Em todos os lugares, afrescos dos séculos XII e XIII, dentre os quais, alguns famosíssimos de Giotto.
Visitei a cidade logo após o terremoto de 1996 e quase chorei de ver tamanha destruição. Mas, incrivelmente, para o Jubileu de 2000 estava tudo restaurado.
Na cripta está o corpo de São Francisco. Lembra que lá em cima eu pedi que esperasse para saber da terceira decisão da minha vida?
Chega de suspense, vou contar.
Na cripta existe uma vitrine com as relíquias do Santo. Ali, tudo o que ele possuía na vida: duas túnicas, um capuz, uma sandália de couro e o texto original das regras franciscanas.
Fui acometida por uma emoção tão grande que chorei de soluçar! Pra mim, isso serviu para simplificar minha vida: se ele precisou de tão pouco para fazer tudo o que fez, euzinha aqui preciso de mais por quê?
Quer a 5ª DICA quente?
Chegue antes das 18 horas para conseguir visitar tudo, depois deste horário começam as missas e a Basílica Inferior fecha, aí, nada de Cripta para você!
DICA 6: se seu carro está na Piazza Mateotti, não vai subir tudo a pé, vai? Pegue um ônibus (Linea C) ou táxi e em 5 minutos você estará na porta da sua caranga. Essa foi boa, né?
Peraí, volta aqui! O passeio não acabou!
Pertinho da estação está a Basilica di Santa Maria degli Angeli (1569-1679), que foi construída para abrigar a Porziuncola.
É, deixei o melhor para o fim.
No meio de um bosque de carvalhos, estava as ruínas de uma igrejinha, que São Francisco restaurou com as próprias mãos, a chamada Porziuncola.
Foi aqui que ele recebeu os primeiros companheiros, fundou a Ordem Franciscana, acolheu Santa Clara e a consagrou, e dizem que foi aqui que, em 1216, Cristo e Maria apareceram para ele e lhe comunicaram que aquele que rezasse naquela igrejinha obteria o perdão de todos os seus pecados. É o famoso Perdão de Assis.
7ª DICA: a cidade vive da peregrinação turística religiosa e do comércio. São centenas de “lujinhas” atraentes e, se você for parar em todas (desaconselhável: todas são iguais), não vai ser capaz se sentir realmente a vibração da cidade. Tente não enxergar Assis por este ângulo.
8ª DICA: caiu em tentação e está dentro da lojinha? Então, não deixe de comprar o azulejo com o mantra de Francesco: PAX e BENE (paz e bondade) para colocar no umbral da porta de entrada de sua casa. E escolha SEMPRE artesãos locais e contribua para o turismo auto-sustentável da cidade!
E se você se apaixonar tanto pela cidade a ponto de fazer a mesma promessa que eu, me avise: vamos juntos!
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