Acabei de ler “Mil dias em Veneza” (Marlena De Blasi) e adorei o modo pelo qual a autora descreve La Serenissima.
É como se o leitor desse um mergulho nas águas calmas da laguna veneziana e, ao acabar a leitura, se sentisse completamente integrado à cultura e ao modo de viver daquele povo.
Com astúcia e um senso aguçadíssimo de observação a autora descreve os dias passados em Veneza seguindo o ritmo da cidade: ora lenta e melancólica, ora apressada e alegre.
Também consegue definir as principais características dos venezianos – e ela acerta, acredite em mim, que venho de família veneziana – com muita perspicácia.
Ao final do livro ainda encontram-se algumas ótimas receitas e um delicioso roteiro romântico. Vale a leitura!
Alguns trechos:
“…Existe um locandiere, dono e gerente, de uma pensione simples e uma osteria de quatro mesas que não atualiza seu cardápio há 30 anos. Todo dia de manhã ele prepara os mesmos cinco ou seis pratos venezianos típicos e legítimos. A comida que não vende em determinado dia é devidamente separada e guardada. No dia seguinte. ele torna a cozinhar, servindo os pratos preparados no dia para seus clientes assíduos e o arroz com ervilhas, a massa com feijão ou o ensopado de peixe da véspera para os clientes de passagem. Assim, o casal da Nova Zelândia está comendo o mesmo tipo de comida das duas matronas venezianas sentadas na mesa ao lado. A única diferença é que a comida dos neozelandeses foi temperada com dois ou três dias de descanso, pelos quais o locandiere provavelmente irá lhe cobrar 30 por cento a mais do que às senhoras de Sant’Angelo que tornará a ver no dia seguinte.”
“A primeira coisa a aprender é que tudo o que acontece em Veneza depende da água. Veneza foi fundada para servir de refúgio, e seu caráter inacessível é justamente sua razão de ser. Em 1.500 anos pouca coisa mudou, ou seja, nada pode pegar a cidade de surpresa. Tudo e todos precisam percorrer seus cintilantes domínios de barco…Portanto, o preço de cada batata, de cada prego e de cada saco de farinha, de cada lâmpada e de cada caixa de petúnias sofre um acréscimo devido à travessia da lagoa e dos canais, Tanto para os viajantes como para os moradores, Veneza é a cidade mais cara da Itália…”
O livro é recheado de histórias assim!!! Uma delícia, não?